O Relatório sobre o Futuro da Competitividade Europeia, elaborado por Mario Draghi, analisa os principais desafios enfrentados pela indústria e pelas empresas no contexto do Mercado Único. As conclusões apresentadas neste documento visam apoiar a Comissão Europeia na elaboração de um novo plano orientado para a prosperidade sustentável e a competitividade do continente. Este esforço inclui o desenvolvimento do Acordo Industrial Limpo, uma iniciativa estratégica para fortalecer indústrias competitivas e criar empregos de qualidade, cujo lançamento está previsto para os primeiros 100 dias do novo mandato da Comissão.
Atualmente, a Europa demonstra uma forte união na busca por crescimento económico inclusivo, priorizando pilares como competitividade sustentável, segurança económica, autonomia estratégica aberta e concorrência leal. Estes elementos são fundamentais para garantir a prosperidade e reforçar a liderança do bloco. A visão que orienta esta estratégia é clara: criar condições que permitam às empresas prosperar, protegendo simultaneamente o ambiente e promovendo oportunidades equitativas de sucesso para todos.
Neste contexto, a competitividade sustentável procura alinhar a produtividade empresarial com a responsabilidade ambiental. A segurança económica, por outro lado, visa preparar a economia para enfrentar desafios emergentes e proteger empregos. Já o conceito de autonomia estratégica aberta reflete o compromisso da Europa em permanecer integrada no contexto global, mas determinada a moldar um futuro mais justo e equilibrado.
Reconhecendo a natureza dinâmica dos desafios globais, a União Europeia tem como prioridade manter a sua posição competitiva e próspera. Isto exige uma abordagem estratégica voltada para o futuro, de forma a definir as ações necessárias para garantir a competitividade a longo prazo. Por essa razão, Mario Draghi, antigo presidente do Banco Central Europeu e uma das maiores referências económicas do continente, foi convidado pela Comissão Europeia a apresentar uma visão abrangente sobre o futuro da competitividade europeia.
As atividades de M&A desempenham um papel central no panorama empresarial global, sendo amplamente utilizadas como ferramentas estratégicas para promover crescimento, inovação e consolidação em mercados competitivos. No relatório de Draghi, identifica-se um ambiente favorável à intensificação das operações de M&A, face aos desafios e oportunidades relacionados com a competitividade europeia.
O relatório aponta uma lacuna significativa nos investimentos em investigação e desenvolvimento (I&D) quando comparados com outras economias globais, como os Estados Unidos e a China. Essa desvantagem é particularmente evidente no campo das tecnologias disruptivas, considerando que apenas quatro das 50 maiores empresas de tecnologia do mundo estão sediadas na Europa.
Neste sentido, as operações de M&A surgem como uma solução estratégica para acelerar a transformação tecnológica das empresas europeias e reduzir o défice de inovação. A aquisição de startups e empresas emergentes especializadas em áreas como inteligência artificial, biotecnologia, software e hardware pode reforçar a posição das corporações europeias num cenário global em constante evolução. Frequentemente, empresas focadas na inovação, incluindo soluções em energias renováveis e tecnologias emergentes, tornam-se alvos atrativos para grandes conglomerados que pretendem adaptar-se rapidamente às novas exigências do mercado.
Adicionalmente, o relatório sugere a criação de um estatuto específico para empresas inovadoras na União Europeia, facilitando o acesso a regulamentações mais harmonizadas. Esta medida poderia impulsionar ainda mais as atividades de M&A, incentivando a expansão de operações por todo o continente.
A transição para uma economia verde está no centro da agenda estratégica europeia, com a meta de atingir a neutralidade carbónica até 2050. Contudo, os elevados custos de energia na Europa representam um obstáculo significativo, especialmente em comparação com economias como os Estados Unidos e a China, onde os preços são consideravelmente mais baixos.
Neste cenário, as operações de M&A no sector das energias renováveis e tecnologias limpas assumem uma relevância estratégica. Empresas que atuam nas áreas de energia solar, eólica, hidrogénio e tecnologias de captura de carbono são vistas como alvos atrativos para fusões ou aquisições por corporações que pretendem acelerar a transição para modelos de negócio mais sustentáveis e alinhados com as exigentes metas ambientais da UE. Draghi também sublinha a necessidade de uma maior coordenação energética na Europa, sugerindo a integração de fontes renováveis e nucleares. Tal exigirá investimentos significativos em infraestruturas, aumentando o potencial de M&A em sectores como redes elétricas inteligentes e tecnologias avançadas de armazenamento de energia.
A pandemia de COVID-19 e o conflito na Ucrânia evidenciaram vulnerabilidades críticas nas cadeias globais de abastecimento, especialmente em sectores estratégicos como semicondutores e matérias-primas. O relatório destaca a urgência de reduzir a dependência europeia de fornecedores externos, promovendo uma maior autonomia em tecnologias e recursos essenciais.
As atividades de M&A desempenham um papel estratégico neste esforço de diversificação. Empresas que produzem semicondutores ou matérias-primas críticas para tecnologias de ponta, como baterias para veículos elétricos, são particularmente atrativas para fusões e aquisições. Estas operações não só reforçam a produção interna, como também aumentam a resiliência geopolítica da Europa.
Estima-se que a União Europeia necessitará de cerca de 750 a 800 mil milhões de euros anuais para alcançar as suas metas de descarbonização, inovação e segurança económica. Parte deste montante pode ser captado através de operações de M&A, atraindo investimentos de grandes corporações e fundos de private equity interessados em aumentar a sua presença em sectores estratégicos.
O relatório também propõe o aumento de investimentos públicos em áreas disruptivas, reduzindo o risco para investidores privados e tornando as atividades de M&A ainda mais atrativas. Além disso, políticas fiscais favoráveis e subsídios direcionados podem estimular aquisições em sectores prioritários, como tecnologias emergentes e energias renováveis.
O relatório de Mario Draghi apresenta um diagnóstico detalhado dos desafios económicos enfrentados pela Europa, ao mesmo tempo que identifica oportunidades promissoras de crescimento e transformação. As fusões e aquisições têm o potencial de desempenhar um papel decisivo na superação destes obstáculos, promovendo inovação, expansão e resiliência.
Com recomendações claras e uma visão estratégica, o relatório traça um caminho para que as empresas europeias alinhem os seus objetivos às metas de longo prazo da União Europeia. Neste cenário, as operações de M&A surgem como ferramentas indispensáveis para construir uma Europa mais competitiva, sustentável e preparada para os desafios do futuro.
Business Developer da HMBO